Domingo é sagrado: a gente dorme até tarde, levanta da cama com preguiça e diz “Hoje é dia de comer fora, bebê”.
Como tudo favorecia ficar em casa – chuva, frio, neblina importada de Londres, nada pra fazer e ainda por cima meia dúzia de blocos perdidos atrapalhando o trânsito da cidade – fomos atrás de um lugar perto. Pegamos a dica do 2º melhor bife da zona sul (pra quem não conhece, até agora esse aqui é “O Imbatível” – será que vamos mudar de ideia?) e embarcamos em busca do grande, macio, suculento e rosado pedaço de mau caminho.
A Casa do Filé fica num dos endereços mais bacanas do Rio: no coração do Largo dos Leões, entre a muvuca de transeuntes de Botafogo e a confusão de carros do Humaitá, colado com a Cobal. A casa é daquelas arrumadinhas: não tem nada de cool, mas também não é tradicional. Fica ali, no meio termo, sem uma identidade muito clara, mas sem perder as estribeiras estilosas.
A comida? Bom, veja o que rolou:
Prato principal #1 :: Hamburguer de picanha artesanal :: r$ 29
A foto da hamburguesa mereceu até o destaque do post. Comissão de frente, harmonia e alegoria: nota 10! Muito bem servido, ótima relação custo x benefício, acompanhado de uma porção (exagerada) de batata frita (ou salada verde), chutney de maçã (ou barbecue) e cebola crocante. Aliás, que história é essa de “crocante”? Em tempos modernos, parece que “frito” virou palavra riscada de qualquer cardápio.
Prato principal #2 :: Casa do filé :: r$ 43
Um lindo bifão de filé mignon, com molho de vinho, amêndoas, passas e bacon, acompanhado de arroz branco e batata sauté (imediatamente trocada por portuguesa, fininha e crocante).
O grande destaque da casa cumpriu sua obrigação: o bife (e o hamburguer) estavam macios e gostosos, com uma casquinha crocante, tudo o que se espera de um bom mignon. Nada lembra mais o conforto do lar do que um prato de bife com arroz e batata, certo? Mas é exatamente aí que eles perdem muitos pontos. Afinal, do que vale ter um bom bife e prepará-lo com maestria se o restante do prato não é do mesmo nível? Depois de saciar a fome e gastar r$ 88, ficou a dúvida: como apreciar um filé delicioso acompanhado de arroz branco sem sal, sem gosto e sem graça e de batata frita congelada?
Justiça seja feita, o chutney (mais pedaçudo, com menos cara de molho) e a batata portuguesa estavam no ponto e contribuíram com a montagem dos pratos. Vale pagar pela qualidade de apenas um elemento do prato? Sei não…
E por que ainda existe o famoso discurso das casas que servem pratos monstruosos sobre suas porções individuais? Acho que essa atitude intimida o cliente e deixa o clima ruim logo na entrada. Prefiro acreditar que posso comer da forma que eu quiser, a porção que eu desejar e quantos pratos me der vontade, sem essa pressão social de sentar à mesa, pedir cada um o seu prato apenas para sobrar comida no final do almoço. Nessa briga dos novos restaurantes arrumadinhos e os antigos sujinhos, acho que fico com os garçons originalmente mau-humorados das casas realmente tradicionais da cidade. Pelo menos o mau-humor me diverte.
***
Dica da querida Bibi, que adora a hamburguesa!
***
Casa do Filé
Largo dos Leões, 111 – Humaitá
Tel. 2246.4901
olha, mas cada foto dessas eu fico afim de matar vcs. Nao sei pq eu leio esse blog as 11h28 da manha, sabe. Nao é normal uma pessoa querer comer filé com fritas e arroz e chutney e barbecue e cebolas “crocantes” nesse horário.
e uma coisica: eu fico na duvida se gosto de pratos individuais enormes ou bandejinhas de compartilhar. Pq eu to numa fase ogra da vida e to mto afins de dividir nada nao (Joey doesn’t share food, sabe como?).
Entao, por agooora, to preferindo as opcoes self-gordas.
beju beju, to amanu isso aqui!
eu tava pra te comentar que achei que esse lugar não ia mexer muito com as suas lombrigas portenhas. até pq, né, é covarde disputar com os bifões daí. mas com lombrigas famintas não tem papo! :P
ah, outra questao (to cheia da questao hoje, repara): vcs só vao visitar locais novos ou vao avaliar clássicos tb?
Só o que a gente ainda não foi. Porque o blog é legitimamente gordo: tem que servir como dica pra quem não conhece e como descobertas gastronômicas pra gente… ;) E sobre as porções self-gordas, eu super tô-sempre-tive nessa também, só não curto a pressão social.
ah sim, pq tem um restaurante aqui do lado hermano que é mordenosinho tb. E se vc quiser compartilhar seu prato, tem que pagar um extra. Daí eu perguntei pro mozo:
– e vem mais porcao extra no prato com taxa de compartilhar?
– NOT, ele disse
mas oi? entao pq a taxa? aí sim é uma puta intimidacao. Pq vc fica puto de pagar POR NADA e acaba nao dividindo e sobra comida dos que queriam rachar.
isso eu acho um super afasta-gente-que-come-educadinho.
né nao?
concordo plenamente. um porque me incomoda deveras desperdiçar comida – faço um mega esforço pra não fazer em casa, então me dá muita dó sair pra comer e deixar um montão de comida no prato. outro porque acho muito deselegante (!) esse teatro de obrigações de um restaurante. vc mal senta e o garçom já começa a te perguntar da bebida. abre o cardápio e já querem saber da entrada. perco um pouco o prazer do ritual de comer fora…
agora, cobrar pra te trazer um prato extra é o fim. tipos taxa-detergente? não é phyno.
Carol, tô pra dizer que isso é crime… não? TENSÃO nas argentinas.